terça-feira, 6 de março de 2007

15 - Óptica ou Ótica?

Desde que comecei a dar aula já ouvi muitas besteiras sobre o que é certo ou errado, tendo até já discutido acaloradamente com alguns "especialistas". Não poderia deixar passar a oportunidade de no blog esclarecer o que, para muita gente, ainda é motivo de dúvida.
Seguem abaixo os verbetes ótica e óptica do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, sem dúvida um dos mais prestigiados dentre os bons dicionários existentes (os destaques em vermelho são meus):

ótica
{verbete}

Acepções
■ substantivo feminino
Regionalismo: Brasil.
m.q. óptica

óptica
Datação

1635-1688 cf. FQBasto
Acepções
■ substantivo feminino
1 Rubrica: física.
parte da física que estuda as leis relativas às radiações luminosas e aos fenômenos da visão
2 tratado, dissertação acerca desse ramo da física
3 local especializado na venda e/ou fabrico de óculos, lunetas, instrumentos ópticos em geral
4 forma, aspecto de um objeto visto ao longe ou sob determinado ângulo; perspectiva
5 Derivação: por metáfora.
o ângulo sob o qual algo ou alguém é observado ou considerado; ponto de vista, perspectiva
Ex.: na ó. dos conservadores, tais conflitos são inaceitáveis
6 Derivação: por metáfora. maneira, aspecto particular de considerar ou entender algo (uma determinada situação, um tema, uma questão etc.); perspectiva, visão
Ex.: deve-se respeitar a ó. de cada um
Locuções
ó. eletrônica
Rubrica: óptica.
estudo dos desvios sofridos pelas trajetórias dos elétrons
ó. física
Rubrica: óptica.
parte da óptica que estuda os fenômenos cuja interpretação depende da própria natureza da luz
ó. geométrica
Rubrica: óptica.
ramo da óptica baseado no princípio da propagação retilínea da luz, nas leis de reflexão e de refração
ó. física
Rubrica: óptica.
parte da óptica que estuda os fenômenos cuja interpretação depende da própria natureza da luz ó. geométrica
Rubrica: óptica.
ramo da óptica baseado no princípio da propagação retilínea da luz, nas leis de reflexão e de refração
ó. geométrica
Rubrica: óptica.
ramo da óptica baseado no princípio da propagação retilínea da luz, nas leis de reflexão e de refração
Etimologia
gr. optikê 'a arte de ver, a ciência da visão', pelo lat. optìce,és 'id.'
Sinônimos
ótica

Já ouvi muita argumentação baseada na idéia de que a palavra ótica é relativa a ouvido, por isso, coloquei também o verbete ótico do citado dicionário:

ótico
Acepções

■ adjetivo
Rubrica: otorrinolaringologia.
1 relativo a orelha
2 que é eficaz contra os males da orelha (diz-se de medicamento)
Obs.: cf. orelha
Etimologia
gr. ótikós,ê,ón 'relativo às orelhas'; ver ot(i/o)-
Parônimos
óptico(adj.s.m.)

Vemos, portanto, que podem ser utilizadas indistintamente as versões Ótica ou Óptica pois ambas significam a mesma coisa.
A palavra ótica não é nem nunca foi relacionada com ouvido, como muitos "especialistas" dizem. Ótico, com "o" no final, é que é relativo a ouvido, daí a especialidade médica otorrinolaringologia.
Conclusão: se você acha que aquele "p" mudo tem um charme especial diga óptica, por outro lado se você é menos * pode utilizar ótica pois também estará correto.

PS. Pena que os dicionários no Brasil sejam caros...


30 comentários:

Anônimo disse...

Estranho algumas pessoas terem discutido tal assunto com você, professor, afinal, até os "dicionários baratos" deixam claro o significado de tais palavras. A propósito, fui seu aluno no pré-vest e sua matéria foi importante para mim,pois é base do meu curso(química).O seu jeito sistemático(não no sentido popular, hein!) de explicar a matéria me proporcionou um interesse bem maior pela física, que caminha juntamente com a química. Obrigado!

Elder disse...

Obrigado pelo elogio e parabéns pela aprovação.

Anônimo disse...

Ta ai, uma coisa que eu nao sabia. Mais uma coisa que aprendo com voce, aliás, seus exemplos do cotidiano nas aulas me fazem entender mais facilmente a matéria.
Sua aula é bastante interessante e, como não seria diferente, seu blog tambem está. =]
Voltarei mais vezes aqui.

Anônimo disse...

Professor, quero saber se é possível esticar um fio (de cabelo, por exemplo) deixando-o em equilíbrio, caso ele esteja sobre alguma superfície. Muito obrigada e parabéns pelo blog.

Elder disse...

Sim, se o fio está apoiado sobre uma superfície o equilíbrio é possível.

Anônimo disse...

Professor, há possibilidade de o gabarito da apostila E1 conter erro?
Estou em dúvida na questão 11(Mecânica). Obrigado, desde já, pela resposta.

Elder disse...

O gabarito da questão 11 da E1 está correto.

S2 Paulinhaah S2 disse...

Professorr..
vc tem orkut??
bjO

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog. É uma excelente iniciativa, professor.

Abaixo seguem dois links:

http://www.portaldoastronomo.org/

Este contém fotos ótimas (vide imagens do dia) e é um dos melhores sites de astronomia de língua portuguesa.

http://www.pbs.org/wgbh/nova/elegant/program.html

Este é baseado no livro do
Brian Greene. Não é sensacional, mas é bem didático. Eu gostei muito da iniciativa.

Espero que eles tenham alguma serventia para você.

Com carinho,
Caroline Sofiatti

Anônimo disse...

Elder. Eu tenho um pouco de dificuldade em matemática. Não é nada muito sério e eu pretendo vencer esse problema este ano, mesmo assim gostaria da sua opinião.
Vou tentar pra arquitetura e penso que as pessoas que escolhem esse curso, assim como eu, não são especialistas e fãs da matéria.
Você acha que eu estou pensando certo ou devo mudar de curso?

Parabéns pelo blog e obrigado pelas ótimas aulas de física.

Elder disse...

Não, não tenho orkut.

Elder disse...

Você não precisa ser um especialista em matemática, mas conhecer a disciplina e, principalmente, ter um raciocínio rápido é útil e necessário. Pessoalmente julgo Física (que já foi discursiva para Arquitetura na UFES) mais importante para o curso, mas fazer o quê? Lembre sempre que ser arquiteto não é apenas cuidar da estética.

Anônimo disse...

Elder, você sabe se tem as discursivas de 2007 da UFES na internet ou onde posso acha-las?

Elder disse...

No próprio site da UFES, o endereço é: http://www.ccv.ufes.br/.

Anônimo disse...

Gostei muito do blog, gostei muito sobre o comentario que você fes sobre as palavras ótica e óptica, eu tinha muita duvida sobre a pronuncia correta, agora tenho certeza do que eustou falando :). Parabens pelo blog ele ficou dez...

Anônimo disse...

Então o nervo ótico é o nervo do olho ou do ouvido?

Elder disse...

Não existe no ouvido um nervo denominado "nervo ótico" !!

Anônimo disse...

Acabei "caindo" sem querer nesta página e tenho a dizer que pode-se compreender e aceitar o uso popular de ótica em lugar de óptica. Pode-se compreender até mesmo o registro de ótica como variante de óptica em alguns dicionários, afinal, os lexicógrafos não fazem a língua; limitam-se a averbar as palavras em uso. O que não se pode compreender é que professores endossem equívocos como esse.
Há diferenças técnicas sim.

Elder disse...

Uma pergunta: Você é Joffre M. de Rezende? Ele é autor de um livro onde um texto muito semelhante ao que você me enviou aparece:

"Pode-se compreender e aceitar o uso popular de ótica em lugar de óptica. Pode-se compreender até mesmo o registro de ótica como variante de óptica em alguns dicionários, como o Aurélio e o Michaelis. [2][3] Afinal, os lexicógrafos não fazem a língua; limitam-se a averbar as palavras em uso. O que não se pode compreender é que publicações médicas editadas no Brasil endossem equívocos desse jaez. "

endereço: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/optica.htm

Se você é o autor citado, tudo bem, o texto é seu e você pode usá-lo quando quizer. Se você não é, saiba que pega muito mal usar textos dos outros sem citar a fonte...

Como possuo o endereço de e-mail do autor citado, não me custará nada saber se ele é você.

Quanto à polêmica de Ótica ou Óptica gostaria de dizer que, ao contrário do que o "seu" texto afirma, não são "alguns dicionários" que trazem a grafia ótica como variante de óptica. E como já estou cansado de falar e escrever sobre o assunto, cito a resposta a uma pergunta que está no site de Física do Instituto de Física da USP (IFUSP):

"ÓTICA OU ÓPTICA?

Na reunião de 25/05, a Congregação do IFUSP aprovou uma alteração curricular: a disciplina "Introdução à Óptica I" foi substituída por "Introdução à Ótica". As mudanças foram de conteúdo e carga horária, mas além disso a consoante "p" evaporou-se no processo. Essa instabilidade ortográfica reflete uma indecisão que há décadas incomoda a comunidade científica (e não só a ela, como se pode ver na foto): qual é a maneira correta de escrever o nome da ciência da luz, com p ou sem p? O Aurélio não ajuda, pois permite as duas grafias, embora avise que "ótica" também tem outro significado, algo relacionado com o ouvido. É verdade que, em minha vida, jamais vi a palavra usada com esse sentido, que provavelmente já se tornou obsoleto. Minha preferência pessoal é por ótica, por uma questão de simplicidade e por outra razão que passo a explicar.

Meu ponto de vista é que a questão da ó(p)tica deve ser focalizada sob o prisma da coerência – não clássica ou quântica, mas coerência tout court. Escrevam óptica se assim o desejarem, mas então, obrigatoriamente, devem pronunciar o p (o que, salvo engano, ninguém faz). Na nossa língua - pelo menos tal como é falada no Brasil - não existem consoantes mudas. Quem duvidar, leia em voz alta palavras usuais como: optei, corrupto, etc. – o som do p sempre aparece, certo? Um colega nosso, físico de primeira, cultiva o hábito meio esnobe de escrever "eléctron" - mas nunca deixa de pronunciar o c, então não há o que criticar. É uma simples questão de lógica.

Prof. Dr. Hercílio R. Rechenberg"

endereço: http://www.if.usp.br/bifusp/bifold/bif0619.shtml

Anônimo disse...

Olá Prof. Elder,

Esse tema sempre me deixa indeciso sobre o que seguir.
Após ler o seu artigo, pensei que seria melhor pesquisar a formação e origem das palavras ótica(o) e óptico(a).
Veja esse site.
Conselho Regional de Óptica e Optometria de Minas Gerais.
Estou acompanhando os comentários do blog.

Elder disse...

Paulo, o que devemos lembrar é que uma língua é mutável e, queiramos ou não, o seu uso no dia a dia é que determina a sua forma atual, o link no final do comentário anterior é uma prova disso.
Não grafamos mais "pharmácia" e o latim é uma língua morta...
Grato pelo link, a discussão está ficando interessante!

Miojo Lamen disse...

Aproveitanro que a discussão ainda está no começo, deixe-me jogar a minha acha.

Caro Elder

Vou postar aqui o comentário anonimamente e advogar um pouco a favor do jmrezende. :) Sou físico, formado lá no IFUSP, vou identificar-me como Luiz, e sou a favor de que continuemos a grafar "óptica".

Assim como você, eu sou totalmente favorável à evolução da língua, tanto na forma escrita como na forma falada. Creio também que o discernimento do termo "ótico" possa ser feito de acordo com o contexto.

Entretanto cabe aqui colocar que não somos donos da língua, apesar de termos o maior número de falantes da mesma. Em Portugal, onde a língua também evolui, o p é pronunciado na palavra óptica (Curiosamente eles falam interseção, apesar de escreverem intersecção). Por outro lado, eu falo "ótica" e sei que existe lá um p não pronunciado, e sei que isso facilita o discernimento do termo para os iniciantes. Claro que o gânglio ótico ou a cápsula ótica são referentes aos ouvidos, independentemente de eu conhecer mais detalhes sobre o tema. E fibra óptica ou guia óptico, com certeza, a ver com algum fenômeno que envolva luz. Isso, claro, se aceitarmos que deva existir uma normatização para escrever.

Sei também que existe uma confusão enorme na nossa língua entre o verbo haver e a preposição a. Isso você encontra em legendas de filmes ou até mesmo em jornais, inclusive os de primeira linha. Fico imaginando o que aconteceria se o h mudo também fosse removido.

Geralmente, em discussões como esta não fica entendido pelas pessoas que existem perigos na banalização completa da grafia. E também não fica entendido pelas pessoas que DEVE existir uma normatização e não simplesmente deixar que a grafia seja transformada ao bel prazer. Especialmente em respeito à terminologia técnica, como a palavra em questão faz parte da mesma. Com certeza o ilustre professor Hercílio (com h) não acha esnobe que o h permaneça na língua, mesmo ele não sendo pronunciado. De algum modo ele aceita a presença de, por assim dizer, sinais não diacríticos, inclusive utilizados nos entremeios das frases que ele mesmo usou.

O Aurélio e diversos outros ilustres da Academia Brasileira de Letras NÃO são também detentores do título de donos da língua. No caso do Aurélio, assim como citou o jmrezende, ele é um mero coletor de termos escritos. E, TAMBÉM, caso você assim queira (ou como muitos querem) reprime (sic) os falantes que gostam de grafar o verbo haver sem o h. Existem discussões inúmeras sobre a necessidade de gramáticas normativas e não vou colocar isto em questão aqui, mas é algo que demanda reflexão.

Se você vasculhar a rede verá que existem inúmeras discussões a respeito de temas similares, como por exemplo a diferença que faz um s ou um z em uma palavra que é pronunciada do mesmo modo, e mais infinitos exemplos. No final das contas, o contexto resolve mas, mesmo assim, prefiro grafar a palavra do modo tradicional.

Em suma, o problema que está sendo colocado é sobre consoantes que são mudas e que esclarecem o sentido da palavra quando escrita. A minha opinião é que devemos tentar manter a grafia e nos habituarmos a que não existe o melhor modo de escrever e sim existem modos de escrever. E que devemos optar por um. Sou totalmente a favor que o Aurélio e outras pessoas das áreas de humanas (com agá mas poderia não ter) utilizassem consultores antes de decidir se uma palavra possa ser escrita assim ou não.

Ou não. Que ele limite-se a ser um coletor de palavras e que realmente aceite que o verbo "aver" POSSA ser escrito desta última forma. É isso?

Custa sim fazer algo bem feito e amplamente estudado e finalmente consolidado como norma, algo que não foi feito com a recente quasi-que-abolição do hífen (aumentou o número de regras na língua), com a remoção do trema e de acentos em tritongos. E, claro, passível de discussão também.

Finalizando, parabéns pelo tema e que a discussão não pare.

Monica Campello disse...

Sou Moser. Creio que esse problema com as palavras não é sem fundamento, pois, acatando e entendendo a sua visão, questiono um ponto: alguém está com uma doença ótica (do ouvido - aqui a palavra termina com 'a' e não com 'o'; alguém está com uma doença óptica (da visão). Logo, afirmar que quando a palavra termina com 'o' se refere especificamente ao 'ouvido', à 'audiçao', não procede e não resolve o problema; sendo assim, é melhor continuar usando mais seguramente as duas expressões devidamente.

Elder disse...

Mococa, respeito, claro, as opiniões diferentes, mas, queiramos ou não, considerando correto ou não, se os dicionários colocam a forma como correta, independentemente da nossa vontade ela É correta.

Anônimo disse...

Muito obrigada pela explicação, digo isso pelo fato que o meu professor de Óptica geometrica ficou rindo de mim quando eu falei que acreditava que ótica era a mesma coisa de óptica e ele disse..."tá bom de você procurar as diferenças entre ótica e óptica". Pois então agora já tenho uma resposta.

Anônimo disse...

Olá!
Também sou professor de Física e sempre me perguntei a respeito desta questão! Li todos os comentários e visitei muitos sites....este em particular me chamou a atenção, pois me pareceu bastante convincente....e o autor não pode ser menosprezado!

Obs: LEIAM ATÉ O FINAL!

http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/optica.htm

Elder disse...

Anônimo, se você leu os outros comentários viu que este texto já foi citado.

Gostaria de comentar que a SBF (Sociedade Brasileira de Física) está utilizando a grafia "ótica".

Esta discussão nos lembra que a língua muda e QUEIRAMOS OU NÃO, GOSTEMOS OU NÃO, ACHANDO O QUE ACHARMOS, não mudaremos essa marcha.
Palavras que tem mais de um significado existem e sempre existirão, o contexto é que nos informará sobre o sentido real.

Um abraço e obrigado por postar seu comentário.

Francisco Marques disse...

Sem a intenção de complicar o debate, gostaria de esclarecer uma dúvida surgida por um comentário do prof. Elder, de que, se os dicionários colocam a forma como correta, ela É correta: se todos concordam em que a língua evolui, essa afirmação deve se referir aos dicionários editados recentemente. Então, há que se estabelecer quanto tempo de validade um dicionário deve ter para que se possa confiar nele e obter a informação necessária.

Elder disse...

Novas edições dos dicionários são lançadas por isso...

Elder disse...

Só para constar:
No Acordo Ortográfico de 2009, encontramos na "BASE IV, Das sequências consonânticas", que nas sequências "pt" quando o "p" é ou não proferido numa pronúncia culta, o "p" pode ou não ser grafado, isto é facultativo.